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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Capítulo 3- Dúvidas e confiança

          Acordar durante a manhã foi doloroso. Eu estava exausta e provavelmente dormiria até as duas horas da tarde se pudesse. Infelizmente, eu deveria ir para a escola, então escovei os meus dentes, tomei um banho e fui comer algo, ainda de toalha.
          Enquanto as torradas ficavam prontas, fui surpreendida por batidas na porta.
-Só um minuto, preciso me trocar!- gritei.
-Não precisa, Ash, sou eu, Rosalya.- respondeu-me uma voz doce e familiar.
          Deixei-a entrar e Rosa aconchegou-se na bancada da cozinha. Também pegou alguns cookies com gotas de chocolate enquanto eu passava geleia nas torradas que por pouco não queimaram.
-Estou realmente surpresa por você já estar pronta essa hora da manhã, Rosa.
-Bem, normalmente, quando eu vou à Toca da Serpente, eu perco as aulas do dia seguinte. Mas dessa fez, temos uma reputação para cuidar.
           Encarei-a por um minuto, obviamente esperando por uma continuação; uma explicação. Ela me fitou, segurando para não rir diante o meu desconhecimento.
-Ash, você sabe que nós não somos as únicas pessoas da escola que frequentaram a Toca da Serpente ontem, certo?-  Acenei positivamente, para que Rosa continuasse- Bem, então acho que você deveria saber que muitas pessoas, alguns meninos inclusive, me mandaram mensagens perguntando quem era a garota bonita que estava dançando comigo.
           Eu continuei encarando-a, querendo saber quando a história de Rosa ia ter alguma coisa a ver comigo. Mas foi ai que me dei conta de que EU, Ashley, era a menina que havia dançado com ela. Foi questão de segundos até que todo o meu rosto ficasse vermelho.
-E você disse que a menina que dançou com você era só mais uma estranha que bebeu e virou sua amiga, certo?- respondi, esperançosa de que os únicos olhares que eu teria na Sweet Amoris seriam dos meus amigos, apenas. - Rosa deu de ombros e focou em comer o seu cookie, ou seja, ela havia dito que era eu. Ashley, a garota desastrada e tímida da Sweet Amoris, era a garota misteriosa na Toca da Serpente.
- Enfim, a questão é que agora você deve receber um pouco mais de atenção no colégio e vim aqui garantir que você esteja usando mais do que seus velhos pares de jeans e um moletom qualquer. E nem vem com "eu não quero mais atenção, gosto das coisas do jeito que são"- ela disse, levantando o dedo de forma arbitrária quando eu me preparei para falar- As coisas mudam, Ash, e mudanças podem ser boas, ainda mais quando se tem uma amiga que namora o dono da loja de roupas e pode conseguir descontos maravilhosos.
            Dessa vez, foi a vez de Rosa me fitar. Assim que sorri, mesmo que de lado, ela pulou da bancada e me abraçou. Ela sabia que havia ganhado. Ela pegou sua mochila, mais cheia que o normal, e tirou inúmeras peças de roupa, de diversas cores, estampas e tamanhos.
-Como você é nova em tudo isso, não posso arriscar e te deixar escolher o que vestir sozinha.- Rosa disse, exibindo um vestidinho verde claro de babadinhos na ponta e um decote em "v" com a mão direita e uma blusa rosa pink com mangas 3/4 com a esquerda. Apontei para o vestido e fui experimenta-lo.
            Sem duvidas, era uma peça de roupa bem bonita e de textura macia e suave, Quando coloquei-a, me senti um pouco exposta. O decote não era tão profundo, mas sem duvidas era maior do que o de costume. Haviam pequenas pregas na cintura, deixando o moderadamente justo nos quadris, O vestido terminava acima dos joelhos, de forma que os babadinhos ficavam igualmente distribuídos nas coxas e na barra.
            Rosalya, quando me viu com eles, ficou satisfeita. Me jogou um pote de óleo hidrante para passar nas pernas e um par de plataformas com um salto de tamanho aceitavel. Obvio que, pra mim, esse "look" era demais, mas estar me vestindo dessa forma parecia importante para Rosa, então tentei me manter interessada, ou pelo menos parecer.
           No fim, eu havia perdido o ônibus e fiquei muito satisfeita por Rosa estar com seu carro na porta do meu prédio. Não gosto de atrasos. Fiquei satisfeito por não prender ou trançar o meu cabelo, gosto de quando o vento entra pela janela do carro e o deixa ganhar vida. Estacionamos no final da rua da escola e antes que eu descesse do carro, Rosa me pôs a mão em meu ombro e alertou-me.
-Ash, as coisas são mais simples do que parece. As pessoas estão curiosas ao seu respeito. Talvez alguém se aproxime e tente conversar, ou talvez...- ela se embaraçou um pouco e nós rimos.- O que eu quero dizer é que você, Ash, deveria estar aberta a novas pessoas e experiências. Esse é o meu conselho final. Agora vamos!
         Eu e Rosa demos os braços e andamos em direção ao colégio. O patio da Sweet Amoris estava cheio de alunos de todos os tipos. Alguns haviam sentado no gramado e tocavam violão, outros dividiam salgadinhos, andavam de skate... A questão é que, independente de onde estavam e o que faziam, todas as pessoas viraram para nos ver. Algumas foram mais rápidas e discretas, outras nos olharam por mais tempo.
        Percebi minhas bochechas ficarem vermelhas e provavelmente, devo ter tremido, porque Rosalya tocou minha mão com os dedos.  Tentei me concentrar na saia vermelha que ela usava, me distraindo da atenção em excesso que eu recebia. Estava extremamente constrangida, mas também não podia negar que uma outra parte de mim estava se sentindo viva. Aos poucos, doses de confiança eram liberadas pelo meu corpo.
         Eu poderia me acostumar com isso. Levantei a cabeça, afirmei meu braço no de Rosa e segui em frente.
         Nesse momento, tudo estava dando certo. Haviam pessoas me olhando. Pessoas sorrindo. A garota loira exibida e suas duas amigas emanavam hostilidade, mas eu não pretendia me aproximar delas, então eu estava bem.
        Até virarmos o corredor e encontrar Kentin ao lado da garota ruiva que, explicitamente, havia se interessado por ele na Toca da Serpente. Ontem a noite, eu havia sentido que ela não era a garota certa pra ele. Não sei o porquê, mas eu apenas não queria os dois juntos. E novamente fui arrebatada por esses sentimentos estranhos e desconexos.
        Ken não me notou. Senti um formigamento na barriga. Eu estava num vestido bonito e gostaria que ele reparasse, mas ele não o fez. O sinal tocou e o pátio e o corredor começaram a se esvaziar. E foi em um frenesi de confiança e dúvida, que me preparei para as aulas do dia.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A toca da serpente

             Senti o sangue se esvair de minhas bochechas quando vi, diante de mim, um garoto alto, de beleza gritante, usando uma blusa branca e calças militares. Em seu peito, havia uma grande mancha marrom, começando a escorrer. Queria me esconder, desaparecer como em um truque de mágica, mas já que não era possível, tive que tomar alguma atitude.
              -Desculpe-, pedi, esperando ouvir ,em troca, uma série de acusações sobre o quanto sou desastrada, ou qualquer outra coisa do tipo. Mas quando respondeu, sua voz estava controlada e completamente acolhedora. 
               -Está tudo bem! Acidentes acontecem, certo?- E me olhou profundamente com seus olhos esmeraldas, deixando-me perdida em um mar verde e vibrante. Não pude deixar de sorrir e, aos poucos, corei. Era típico de minha família corar em momentos indevidos.
               - Sim, certo! Só que comigo, acontecem com muito mais frequência!- Disse, e ele sorriu, de forma melodiosa e extrovertida.
               - Sou Kentin! Prazer em conhecê-la.
               - O prazer é todo meu. Sou Ashley!
               - Bem, posso te chamar de Ash? Acho que combina com você.
               - Claro- respondi.- E desculpe novamente.
               - Relaxa, eu amo sorvete, ainda mais de chocolate! Vou trocar de blusa no vestiário. Até mais, Ash!- e me tocou no ombro, deixando minha pele formigando e quente.
             Observei enquanto se afastava. Rosa, que acompanhou o rápido diálogo de perto, puxo-me para a classe, alegando estarmos atrasadas para a aula. Fiquei feliz quando a Sra. Bane entrou na classe, carregando consigo livros das mais variadas cores e capas.
               - Cada um deverá pegar algum desses vários exemplares da literatura, folheá-lo e dizer à classe qual é o tema principal da historia. Não se esqueçam de dizer se gostaram ou não.
             A princípio, nós, alunos, estávamos tímidos, mas Ambre tomou iniciativa e começou a falar, atraindo olhares para si.
             - O meu livro é Romeu e Julieta. Acho a historia bonita, mesmo que eu não goste de fins trágicos. Sei que Shakespeare é um ótimo escritor, admirado por todas as culturas, mas, mesmo assim, creio que seria bem melhor se eles ficassem juntos. A morte é horrível demais para ser retratada.
             - Obrigada, senhorita Ambre. Opinião interessante. Alguém discorda do ponto de vista da colega?
            Um enorme silêncio dominou a sala. Todos concordavam?
             - Alguém?- Endossou a sra. Bane.
             - Eu discordo, professora!- Falei, e, de repente, era os centro das atenções. Ambre não gostava de pessoas que discordavam dela se manifestassem. Mas me concentrei e comecei:- O meu livro não é Romeu e Julieta, mas eu gostaria que fosse. É uma das minhas histórias favoritas, não apenas pela guerra entre famílias ou pela beleza de um lugar com castelos e reinos, mas sim, pela morte. Já se perguntou se valeria à pena morrer por alguém que ama? Se Romeu soubesse que sua amada ainda estava viva e que apenas dormia um sono profundo, porém passageiro, a magia da historia acabaria. É isso que torna Shakespeare o melhor escritor de sua época. É transformar a morte em uma mensagem, anunciando que o amor é algo forte demais para ser ignorado. E tenho certeza que, assim como Julieta, preferiria morrer ao lado de quem amo ao viver rodeada por infelicidade e ódio.
             Respirei fundo, tentando analisar cada expressão ao meu redor. Sra. Bane franziu os lábios, como se estivesse satisfeita com a minha postura. Nathaniel, Íris, Castiel, Violet... todos pareciam pensar no que eu havia dito, e Kentin, mais ousado, piscou em minha direção. O sinal bateu e interrompeu meu raciocínio.
            Os horários seguintes foram de Biologia e História da Arte. Quando pude ir embora, me despedi de alguns amigos,  e me dirigi ao Ponto de Ônibus, porém, alguém segurou o meu braço e me fez parar. Era Kentin.
             - Oi!- ele disse, colocando as mãos sobre os joelhos, em uma péssima imitação de cansaço.- Você anda muito rápido!
             - Ha- HA!- respondi, com uma careta- Ou você é um péssimo ator ou é muito lento. Ficamos com a primeira opção, certo?
             - Super certo! Bem, Ash, eu queria saber se quer sair comigo hoje. Bem, não só comigo, já que a Rosa, o Leigh, o Castiel e o Jade também vão, mas nós queríamos que você fosse também.
             - Para mim está bem! Onde vamos?
             - Eu e os meninos combinamos de ser uma surpresa, então, você e a Rosa não vão saber até chegarmos lá. Posso te buscar às 19:30?
             - Claro!- Olhei para esquina e meus ônibus se aproximava. Dei-lhe um abraço de despedida e entrei, observando-o ir através da janela, ainda embaçada pela chuva que havia caído a pouco.
                                                                 ***

              Quando cheguei em casa, arrumei meu quarto, fiz os deveres e vi alguns filmes. Às 18 horas, comecei a me arrumar. Depois do banho, escolhi uma blusa de cotton verde escura, uma calça slim justa e bege e um scarpin de polaina preto. Parecia adequado, de forma que as cores estavam em perfeita harmonia e não era nada vulgar. Assim que fiquei pronta, ouvi alguém bater. Kentin, pensei. Antes de descer, coloquei um colar lolita de flor negra. Agora estava extremamente pronta.
              Abri a porta e Ken usava jeans skinny cinza, blusa de manga curta, deixando exposto os músculos do braço. Ao fundo, Rosa, de vestido preto e esvoaçante, Castiel e Jade riam de alguma piada que Leigh contara. Fomos a pé até a Rue de Charenton e paramos em um prédio de dois andares, preto e luminoso. Em cima, podia-se ler a placa: " Toca da Serpente".
               - Gente-, disse Rosalya- eu adoro esse lugar! Vou dançar horrores!
              Todos nós rimos. A toca da Serpente não era um boate,  mas funcionava como uma. Era onde pessoas jovens iam para dançar, se divertir e beber deliciosos coquetéis espumantes e coloridos ( É claro que sem álcool). Entrando, diversas luzes de neon iluminavam a pista, o balcão e as mesinhas em forma de coração.
              Me sentei e logo fui servida por um garçom loiro e tatuado. Me deu uma piscadinha, fazendo com que Castiel gargalhasse enquanto eu corava. Na taça, havia um liquido laranja abobora. Bebi, receosa de que tivesse um gosto amargo, mas era apenas suco de maracujá.
              - AI MEU DEUS!- gritou Rosa,- Essa é a minha música. Vem, Ash!- E me arrastou pro salão.               O piso era transparente mas se iluminava quando as luzes o tocavam. Rosalya segurou minha mão e rebolou, jogando os cabelos para o lado, sendo extremamente sensual. SEXY! Ela me encarou, pedindo que eu também tentasse, mas sensualidade não era uma das minhas características mais fortes. Ia me sentar ao lado dos rapazes, mas quando me viro, vejo uma ruiva se exibir para Kentin, dispondo de gestos provocantes e ousados.
               Congelei. Conhecia Ken a pouco tempo, mas já eramos bons amigos. Sem dúvidas, uma garota como aquela não era ideal para ele, então, tomei uma atitude. A medida em que Lana Del Rey cantava, eu ondulei, levantado os braços, junto com Rosa. Meus cabelos fluíam de um lado para o outro, como se lançados em um furacão de sentidos. Logo após, eu virei, deixando que Rosalya, poderosa em seu look negro, arqueasse seu quadril no meu e rebolasse comigo, segurando minha cintura. Eu a rodopiei e, dessa vez, iniciamos movimentos leves e ousados, permitindo que nossos corpos se libertassem.
                Quando o música cessou, paramos, com a respiração ofegante. Todos, exatamente todos, incluindo o garçom que havia me servido e até Kentin, nos olhavam. Ao ver a expressão da garota, como se quisesse enfiar agulhas em mim, não pude evitar e dei-a um sorrisinho. Pupilas dilatadas, lábios avermelhados, cílios alongados, ondas de prazer ecoando pelos nervos... Essa era a sensação de ser desejada?
                Me sentei novamente e Ken olhava distraidamente para uma flor cor de rubi, em cima da mesa. Naquela manhã, eu havia pensado que sua beleza era gritante e óbvia, mas, na verdade, é delicada e aconchegante. A forma na qual suas sobrancelhas se curvavam em uma volta perfeita, a boca se flexionava para sorrir e seus cabelos caiam sobre a testa, deixavam-no mais belo que o imaginável.
                Ele se virou, me pegando olhá-lo de forma tão árdua, e senti o sangue preencher a minha face, deixando-a rósea. Ele tocou meu ombro, mas em vez do leve formigamento, produziu arrepios. Queria tocá-lo, contornando os nós de seus dedos até o pulso. Então, ele se aproximou. Estava cada vez mais perto e perto e.... veio em minha direção, mas desviou no último estante, sussurrando em meu ouvido um " Temos que ir,  Ash!".
                Sentido o seu perfume cítrico, levantei e sai, seguindo Jade e Leigh em direção à saída. Rosa e Castiel logo se juntaram a nós, ambos trazendo copos que liberavam fumaça azul lázuli. Caminhamos pelas ruas, agora, iluminadas por altos postes de estilo decó e neoclássico. Rosalya e Leigh se despediram e foram para um belo apartamento roxo e branco. Bem a cara dela, pensei. Jade e Castiel subiram a rua em direção ao Louvre e Ken seguiu em frente comigo.
                Ele ofereceu o braço, em um gesto de cavalheirismo antigo e ambos rimos. A temperatura estava abaixando, provocando vapor quando se falava. Quando chegamos em minha porta, ele me abraçou, deixando me ternamente envolvida em seus braços. Ashley, Ashley, Ash.., ele sussurrou o meu nome, como se fosse uma dádiva, um hino. Olhei-o nos olhos, sentindo que estávamos conectados de alguma forma. Ele tomou as minhas mãos nas dele e, assim como na Toca da Serpente, se aproximou.
               Dessa vez, porém, não foi ao encontro do meu ouvido, mas sim, de minha testa. Beijou-a e desceu, encaixando suavemente os nossos narizes. Passou os dedos pelos meus cabelos desgrenhados, alinhando-os atrás da orelha. Boa noite, Ash., ele disse, e se afastou, descendo os três pequenos degraus que separava minha casa do meio fio e deixando-me, de forma surpresa, sussurrando um singelo Durma bem, Kentin.
                

sábado, 9 de novembro de 2013

Primeiro dia

         Quando se mora sozinha, a rotina pode ser bem monótona. Acordei cedo para preparar o café e arrumar o meu material escolar. É o meu segundo ano na Sweet Amoris e gostaria de chegar um pouco mais cedo. Coloquei meu bom e velho par de All Star, uma blusa de frio vermelha, um Jeans e fui pegar meu ônibus na esquina.
         Conheço bem o caminho para a escola. Primeiro, passamos pela Pont Royal e, mais adiante, pelo Louvre. Desço dois pontos depois e, como sempre, ponho uma toca para evitar que a umidade da neblina francesa (comum por toda a cidade nessa hora da manhã) deixe meus cabelos armados. Pensei em como as pessoas normalmente acham que morar em Paris é glamouroso, mas no meu ponto de vista, é tão comum como em qualquer outro lugar. É claro que a maior parte dos franceses adoram perfumes e roupas de luxo, mas quando se é como eu, alguém que se dedica a ver a beleza interior e o caráter, o que está vestindo não importa tanto.
         O portão da Sweet Amoris deixou de ser prata, ganhando um tom dourado vívido. O pátio estava começando a ganhar movimento e o chafariz em forma de anjo sibilava quando o Sol, que começava a tomar conta do céu, iluminava-o. Porém, o lugar que mais amo é o jardim. Lá, consigo tirar ótimas fotos das plantas e dos animais que ficam sobre as árvores ou que voam baixo para sentir o cheirinho das flores.
        Sentei sobre a grama, ignorando o fato de ainda estar úmida devido ao orvalho matinal. Observei, protegida pelos arbustos e flores, as pessoas andando em todas as direções. Um garoto alto e ruivo surgiu e foi para os corredores. Outros dois passaram, conversando alegremente. Um possuía cabelos brancos e anotava atentamente o que o loiro de olhos de avelã dizia. Uma loira, muito exibida, era seguida por duas garotas. Imaginei sendo a líder de uma espécie de matilha e comecei a rir, sendo interrompida pelo sinal, indicando que a primeira aula iria começar.
        O caminho para chegar na turma 316, onde tenho aula de Sociologia, era formando por um corredor largo e com armários azulados. Quando entrei na classe, me sentei na segunda carteira, ao lado da janela. As meninas, geralmente, ficam analisando os esportistas jogarem, torcendo para tirarem a camisa e mandarem beijinhos, mas eu simplesmente adoro ver a paisagem.
        A porta abriu e a diretora entrou, seguida pelo professor Louis. Provavelmente, iria dar algum recado e as boas vindas aos novatos.
- Bom dia, classe! Sou a diretora da Sweet Amoris e vim desejar um ótimo ano letivo a todos. Além disso, gostaria de dizer que os armários já podem ser utilizados e quem não possui a chave deverá providenciar uma na minha sala. As inscrições para algum dos clubes da escola abrirão amanhã. Tenham todos uma boa aula.
       E assim começou o meu ano letivo. As aulas do primeiro turno passaram rápido e, no recreio, resolvi comprar um sorvete na lanchonete. Depois, encontrei Rosa pelos corredores. De fato, ela era a única das minhas amigas que já havia voltado de viagem e que foi à aula. Seus cabelos brancos estavam maiores e ondulados, combinando perfeitamente com o vestido roxo e sobretudo preto que usava. Nos abraçamos e começamos a falar sobre as férias, até que eu, distraída com a conversa, acabei tropeçando e deixando minha casquinha de chocolate voar em algo... ou alguém.
(Continua)